Já publicamos aqui no blog um artigo sobre Valoração Ambiental então, resolvemos criar uma série sobre os Biomas Brasileiros, que possuem uma grande riqueza de biodiversidade. Dia 11 de setembro, foi o Dia Nacional do Cerrado, e começaremos por este, que como os outros biomas fazem parte deste gigante Brasil e merecem sua devida atenção.
O que é um Bioma?
Bioma é uma unidade biológica ou espaço geográfico caracterizado de acordo com o macroclima, a fitofisionomia (aspecto da vegetação de um lugar), o solo e a altitude específicos. Alguns, também são caracterizados de acordo com a presença ou não de fogo natural.
Não existe consenso sobre quantos biomas existem no mundo. Isso porque a definição de bioma varia de autor para autor. Mas, em geral, são citados 11 tipos de biomas diferentes que costumam variar de acordo com a faixa climática. Por exemplo, o bioma de floresta tropical no Brasil é semelhante a um bioma de floresta tropical na África devido a ambos os locais se situarem na mesma faixa climática. Isso significa que as fitofisionomia, o clima, o solo e a altitude dos dois locais são semelhantes, muito embora possam existir espécies em um local que não existem no outro (espécies endêmicas).
O Cerrado.
O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando uma área de 2.036.448 km2, cerca de 22% do território nacional. A sua área contínua incide sobre os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além dos encraves no Amapá, Roraima e Amazonas. Neste espaço territorial encontram-se as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata), o que resulta em um elevado potencial aqüífero e favorece a sua biodiversidade.
Do ponto de vista da diversidade biológica, o Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do mundo, abrigando 11.627 espécies de plantas nativas já catalogadas. Existe uma grande diversidade de habitats, que determinam uma notável alternância de espécies entre diferentes fitofisionomias.
O clima do cerrado é bem definido. No verão as temperaturas são extremamente elevadas, atingido índices maiores que 35°c, e com alta precipitação, cerca de 1.500mm por ano. No inverno as temperaturas diminuem, ocorrendo geadas, e com uma intensa estiagem.
O solo desta região é ácido, com ph que podem variar entre 3,5 e 5 e, esta forte acidez, é devida em boa parte aos altos níveis de alumínio, o que os torna aluminotóxicos para a maioria das plantas agrícolas. Esses solos são predominantemente arenosos, e sua capacidade de retenção de água é relativamente baixa. São geralmente muito profundos, antigos e com poucos nutrientes, exigindo uma adaptação da flora que possui, geralmente, folhas grandes e rígidas, além de, algumas espécies, apresentarem depósitos subterrâneos de água como uma espécie de adaptação às queimadas constantes, permitindo que elas voltem a florir após o incêndio. Outra adaptação são as raízes bastante profundas podendo alcançar de 15 a 20 metros por causa da distância do lençol freático até a superfície.
A vegetação é caracterizada como Savana, e possuem sete fisionomias: Cerrado Stricto sensu, Campos limpos, Campos úmidos, Veredas, Matas de galeria, Cerradão e Campos rupestres.
A questão do fogo.
O fogo é um importante instrumento de manejo em diversos ecossistemas no mundo todo. No Brasil, particularmente o Cerrado e os Campos Sulinos são submetidos a queimadas periódicas, seja por motivos naturais (raios) ou por ações humanas.
No Cerrado, podemos observar diversos atributos na vegetação ligados à presença frequente do fogo, como por exemplo, a típica forma tortuosa das árvores e arbustos, que também apresentam uma casca grossa protegendo seus tecidos internos das altas temperaturas alcançadas durante os incêndios; espécies herbáceas, como gramíneas e ciperáceas, têm suas gemas protegidas através da estrutura das folhas, que formam uma base densamente imbricada.
O fogo promove não apenas adaptações morfológicas e fisiológicas nas plantas do Cerrado, mas também nos processos ecológicos, pois queimadas periódicas estimulam o rebrotamento, a ciclagem dos nutrientes, a frutificação e o estabelecimento de plântulas de diversas espécies.
Na maioria das vezes, quando as unidades de conservação são estabelecidas, todo tipo de distúrbio é delas retirado. Em ecossistemas dependentes de distúrbios, sua total exclusão pode levar à perda de biodiversidade e de processos, terminando na descaracterização ou degradação desses ecossistemas. No entanto, há a necessidade de se estabelecer experimentos em campo para que pelo menos diretrizes gerais quanto ao uso adequado do fogo sejam estabelecidas.
Impactos:
São inúmeros os fatores que têm causado a destruição do cerrado, mas podemos elencar alguns como: topografia geralmente plana facilita a mecanização incentivando a sua ocupação, explosão demográfica na sua região; exploração predatória de madeira para carvão; especulação imobiliária; falta de políticas públicas ambientais concretas; falta de fiscalização nas unidades de conservação; falta de conscientização ambiental da população; monocultura extensiva; uso indiscriminado de agrotóxicos poluindo os rios e riachos e garimpo e mineração em geral.
Embora seja o segundo maior bioma da América do Sul, o Cerrado é o bioma com a menor porcentagem de áreas sobre a proteção integral. Apenas 8,21% da área total do território são legalmente protegidas com unidades de conservação. Estima-se que 20% das espécies nativas e endêmicas não são mais encontradas nessas áreas.
Em apenas 50 anos, o Cerrado perdeu praticamente metade de sua área natural. Se não forem tomadas as medidas necessárias para a proteção desse bioma, nos próximos 50 anos não teremos mais Cerrado.
Por Priscila Leal, gestora ambiental e colaboradora BIOTERA.